SOMENTE EM DEUS
ESPERA E DESCANSA A MINHA ALMA
Salmo 62
Ø Salmo
de Davi
Ø Destinatário
musical: Jedutum, um dos líderes do ministério de louvor instituído por Davi,
conforme vemos em 1 Crônicas 16.41-42 e 25.1-3.
Ø Isso
é uma indicação de que, embora nascido de uma experiência pessoal, o salmo foi
destinado ao uso litúrgico do templo como um cântico público de demonstração de
confiança em Deus.
Ø Isso
é muito normal, ainda hoje – muitos cânticos e hinos nascem de uma experiência
pessoal e depois se tornam cânticos e hinos entoados pelo povo de Deus nos
cultos de adoração comunitária, como é o caso do hino 398 do nosso amado Cantor
Cristão – “Sou Feliz” –, que tem uma das histórias mais comoventes entre os
hinos cristãos.
Horatio
Gates Spafford (1828-1888) era um advogado presbiteriano de Chicago, convertido
através das pregações do evangelista Dwight L. Moody. Ele era casado com Anna
Tuben Larssen e tinham um filho e três filhas.
Em 1870,
seu filho de apenas 4 anos morreu em consequência de uma febre muito forte. No
dia 9 de outubro de 1871, aconteceu um dos maiores incêndios da história dos
EUA em Chicago, que matou cerca de 250 pessoas e deixou quase 90.000
desabrigadas. Spafford tinha investido em imóveis na cidade e perdeu tudo no
incêndio.
Em 1873, a
família planejou viajar para a Europa. Devido a inesperados compromissos de
negócios, Spafford precisou permanecer em Chicago, mas enviou sua esposa e suas
filhas no navio S.S. Ville du Havre. Durante a travessia do Atlântico, o navio
colidiu com um veleiro e afundou. Todas as filhas de Spafford morreram. Anna
sobreviveu e enviou um bilhete no dia 1º de dezembro de 1873 com a triste
mensagem: "Salva, porém só".
Imediatamente
Horatio pegou um navio e foi ao encontro de sua esposa. Quando foi avisado que
estava passando perto do local onde suas filhas haviam morrido no acidente, se
sentiu profundamente comovido, voltou para sua cabine e começou a escrever as
palavras: "Se paz a mais doce me deres gozar/ se dor a mais forte sofrer/
oh seja o que for, tu me fazes saber/ que feliz com Jesus sempre sou".
A melodia
foi composta por Philip Paul Bliss em 1876 e cantada por ele mesmo pela
primeira vez numa cruzada evangelística. A melodia feita por Philip se chama
Ville Du Havre, o mesmo nome do navio em que as filhas de Horatio morreram.
Philip Paul Bliss morreu aos 38 anos, em um acidente de trem, dias depois de
escrever a melodia.
A tradução
para o português é de William Edwin Entzminger (1859-1930).
Este hino
se tornou um dos mais conhecidos hinos de conforto e esperança, demonstrando
que mesmo nas maiores dores, a fé em Cristo pode trazer paz que excede todo
entendimento humano.
Ø A
diferença é que o salmo é de inspiração divina em um sentido especial.
Ø Entendem
os estudiosos que, em termos de evento histórico na vida de Davi que o levou a
escrever o salmo, há duas possibilidades, devido ao “tom” do texto:
o Durante
a perseguição de Saul, antes de Davi se tornar Rei, quando ele era traído por
pessoas que fingiam apoia-lo, e vivia escondido em cavernas e desertos.
o Ou
durante a rebelião de seu filho Absalão, história registrada em 2 Samuel 15 a
18. E nesse caso os motivos são bem fortes:
§ Davi
fala de inimigos que tramam derrubá-lo de sua posição de autoridade
(“derribá-lo da sua excelência”, v. 4).
§ Ele
se refere à instabilidade dos homens, à traição, e à vaidade
dos poderosos, o que combina com a dor que sentiu ao ver o próprio povo se
voltar contra ele.
§ O
tom do salmo é de maturidade espiritual – não é o jovem guerreiro de 1
Samuel, mas o rei experimentado, provado e humilhado, que aprendeu a esperar em
silêncio.
Por isso, a
maioria dos estudiosos entende que o Salmo 62 foi composto durante a
rebelião de Absalão, quando Davi fugia de Jerusalém, traído pelo filho e
por conselheiros de confiança, como Aitofel (2Sm 15.12).
Ø O
contexto histórico dá origem a um contexto emocional profundo:
o Davi
se sente atacado e cercado (vv. 3–4)
o Ele
experimenta mentiras e falsidade (“com a boca bendizem, mas no íntimo
maldizem”).
o As
alianças humanas se mostram frágeis.
o A
confiança nas riquezas e posições se revela vã (vv. 9–10).
Ø E
em meio a tudo isso, Davi toma uma decisão espiritual: silenciar e esperar
em Deus.
Ø Essa
decisão é o centro teológico do salmo – ele não reage com desespero, mas com
fé serena.
Ø Grave
bem esse exemplo de Davi: silenciar e esperar em Deus. Não reagir com
desespero, mas com fé serena. Não significa ficar parado sem fazer nada,
mas não se desesperar, não se precipitar, agir com tranquilidade e fé. Isso
vale para diversas situações: perseguição, dificuldades financeiras,
dificuldades na saúde e até em face da morte (porque no seu tempo ela chega
para todos), como:
o Estêvão
(o primeiro mártir cristão) – Enquanto era apedrejado, orou: "Senhor
Jesus, recebe o meu espírito" e "Senhor, não lhes imputes este
pecado" (Atos 7:59-60).
o Paulo
– Escreveu pouco antes de sua execução: "Combati o bom combate, acabei a
carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada"
(2 Timóteo 4:7-8).
o Policarpo
de Esmirna (155 d.C.) – Quando exigido que negasse Cristo, respondeu:
"Oitenta e seis anos o tenho servido, e nenhum mal me fez; como posso
blasfemar do meu Rei que me salvou?"
o John
Huss (1415) – Queimado na fogueira, cantou hinos enquanto as chamas subiam
e disse: "Cristo, Filho do Deus vivo, tem misericórdia de mim".
o D.L.
Moody (1899) – Acordou e disse: "A terra se afasta, o céu se abre
diante de mim... Isto é glorioso!"
o Billy
Graham (2018) – Viveu com a expectativa do céu, tendo dito frequentemente:
"Algum dia você vai ouvir que Billy Graham morreu. Não acredite nisso!
Estarei mais vivo do que nunca!"
o Russel
Shedd (2016) – Poucos dias antes de sua partida, ao receber uma visita de
membros da Igreja Batista de Atibaia, compartilhou suas reflexões sobre o
sofrimento e a morte. Ele disse: "Meus irmãos e amigos, realmente eu
não sei o que dizer sobre sofrimento, por causa do fato que eu nunca sofri
quase nada, até esses últimos três, quatro meses. Realmente, é uma experiência
muito boa, porque a gente sente se desmamando do mundo e pronto para subir.
Graças a Deus, Cristo sofreu em nosso lugar para que nós possamos, também,
aproveitar a grandeza do Seu amor por nós."
Ø O
salmo reflete uma fé amadurecida e profundamente monoteísta. Davi
usa repetidamente a palavra “somente” (’ak em hebraico), sublinhando que
nenhuma outra fonte de segurança é legítima:
o Somente
Deus é Rocha (v. 2)
o Somente
Deus é Esperança (v. 5)
o Somente
Deus é Refúgio (v. 8)
Ø Davi
já tinha visto o poder humano ruir, já experimentara o engano de amigos e a
fragilidade das riquezas do trono. Por isso, agora ele não se apoia em ninguém
mais: nem em posição, nem em exército, nem em influência.
Ø O
Salmo 62 é o cântico de um coração que chegou à conclusão: “Deus
basta”. Não há outro refúgio, fortaleza ou salvação além do Senhor.
Ø Dito
isto, analisemos agora, um pouquinho mais, o “texto” do Salmo e as lições que
tem pra nós:
1. Versos
1 e 2 – Deus é a única fonte de descanso e salvação
Ø Davi
começa com uma confissão de fé: sua alma espera em Deus.
Ø Ele
reconhece que a salvação não vem de homens, estratégias ou circunstâncias, mas
somente de Deus.
Ø Deus
é descrito como rocha, salvação e defesa – imagens de segurança e estabilidade.
Aplicação:
Ø E
quanto a nós? Onde NÓS temos buscado descanso? Dinheiro,
relacionamentos, status?
Ø É
tentador buscar descanso nessas coisas.
o Quem
dera eu tivesse dinheiro suficiente na conta pra nunca mais me preocupar com
nada! Comprar uma boa casa, um bom carro, viajar, comprar sem olhar o preço,
aproveitar do bom e do melhor desta terra... E, como somos crentes: ajudar os
necessitados, ajudar bastante a igreja (quem sabe até sustentar sozinho um
ministério?)...
o Quem
dera eu tivesse uma saúde “de ferro”... Eu faria “isso”, “aquilo” e “mais
isso”...
o Quem
dera... E por aí vai.
Ø Quanto
à questão da saúde me sinto tentado a colocar aqui o testemunho de Luis Sayão,
um dos servos de Deus mais ativos da atualidade:
Luiz
Alberto Teixeira Sayão nasceu em São Paulo em 19 de abril de 1963 e é uma das
principais referências em estudos bíblicos no Brasil.
Aos 13 anos
de idade, sob a influência de seu primo Franklin Sayão (médico missionário) e
do pastor Guenther Krieger, Sayão descobriu que sua vida só teria sentido se
atendesse à vontade de Deus de dedicar-se ao ministério.
É mestre em
hebraico pela Universidade de São Paulo, tendo se graduado em 2000 com a
dissertação "O problema do mal no livro de Habacuque".
Sob a
inspiração de homens de Deus como Franklin Sayão, Guenther Krieger, Russell
Shedd e Manoel Thé, decidiu dedicar-se ao estudo mais aprofundo da própria
Bíblia, concentrando-se em teologia, linguística e línguas originais,
principalmente o hebraico. Ele chegou a ler 200 livros em um único ano!
Casado em
1987 "com a bênção de Deus chamada Céliz Elaine", conforme ele
mesmo faz questão de dizer, Sayão tem cinco filhos.
Um dos
testemunhos mais marcantes de sua vida envolve seu filho Daniel, que nasceu com
autismo. Seu filho nasceu quando ele escrevia a dissertação sobre o problema do
mal, e essa experiência o humilhou e trouxe benefícios extraordinários,
dando-lhe mais fé e fazendo-o entender os "benefícios" do sofrimento
de modo mais intenso. Seu filho Daniel, que parecia que nunca iria falar,
graças a Deus "saiu da concha" e hoje está quase normal.
Luiz Sayão
tem um ministério extraordinariamente abrangente:
Tradução
Bíblica: Coordenou a comissão que traduziu para o português a Nova Versão
Internacional, lançada oficialmente no Brasil em 3 de março de 2001, assim como
coordenou a versão Almeida Século 21.
Ministério
Pastoral: É o pastor titular e líder fundador da Igreja Batista Nações
Unidas (IBNU) em 2007, tendo 32 anos de atuação no ministério pastoral no
Brasil e no exterior.
Ensino e
Liderança: Foi reitor do seminário Batista do Sul do Brasil, no Rio de
Janeiro, e em janeiro de 2021, assumiu a Direção Acadêmica da Faculdade
Teológica Batista de São Paulo.
Mídia e
Comunicação: Entre 2020 e 2022 apresentou um programa na rádio RTM Brasil
sobre perguntas e respostas sobre questões cristãs, chamado "Conversando
com Luiz Sayão". Seu comentário bíblico, apresentado diariamente no
programa Rota 66, da Rádio Trans Mundial, é traduzido para o inglês, mandarim,
espanhol, francês, ucraniano, alemão, italiano, crioulo da Guiné Bissau,
indonésio, árabe e japonês.
O
testemunho de Luiz Sayão é marcado por dedicação incansável ao estudo das
Escrituras, fidelidade ao ensino bíblico, e uma experiência pessoal profunda de
como o sofrimento pode fortalecer a fé.
O pastor
Luiz Sayão tem enfrentado sérios desafios de saúde nos últimos anos, que se
tornaram um poderoso testemunho de fé em meio ao sofrimento.
Desde
janeiro de 2022, Sayão sofre de encefalomielite miálgica, uma inflamação no
cérebro que ocasiona dores, alergias e inflamações por todo o corpo, com dores
24 horas por dia. Devido a essas condições, ele precisa suplementar 60
nutrientes por dia e é acompanhado por uma equipe médica multidisciplinar.
Além disso,
Sayão sofre com sequelas da Covid-19, que agravaram seu quadro clínico.
O pastor já
havia sofrido um pequeno AVC anteriormente. Mais recentemente, em maio de 2025,
foi internado em UTI após ser acometido por outro AVC.
O AVC
ocorreu no dia 26 de maio de 2025, enquanto Sayão estava no consultório da
médica Adriana Dellarole, onde realiza tratamento regular por sequelas da
Covid-19, e foi prontamente socorrido. A causa do AVC está relacionada a um
defeito congênito: um orifício no coração que permite a formação de coágulos.
Após 12
dias de internação, recebeu alta hospitalar em 7 de junho.
Em julho de
2024, Sayão anunciou um período sabático, cancelando todos os compromissos após
uma crise de saúde séria que incluiu subida repentina de pressão, dor de cabeça
forte e persistente, três pesadelos terríveis com gritos, choro e movimentos
bruscos, e um quadro de abalo emocional bem forte.
Em março de
2025, Sayão compartilhou palavras profundas sobre sua condição: "Minha
saúde se foi. Tenho o que chamo de sobrevida... Não estou um pouco doente, que
estará bem na próxima semana. Minha saúde se foi. Meu coração e fé estão
melhores do que nunca. Não deixarei de servir ao Senhor e de abençoar a todos
com a força que me restar".
E concluiu
de forma tocante: "Se eu puder ser plenamente grato a Deus por tudo o
que ele fez da minha vida, ainda será quase nada diante da graça sem fim que me
alcançou em Cristo Jesus. Nunca atingi meu sonho: amar a Deus sobre tudo e amar
ao próximo como Jesus. Talvez agora as dores me ensinem".
O caso de
Luiz Sayão exemplifica como um servo de Deus enfrenta o sofrimento com fé,
gratidão e esperança. Mesmo com dores constantes e limitações severas, ele
mantém seu ministério ativo através de vídeos gravados, programas de rádio e
ensino, demonstrando que a força de Deus se aperfeiçoa na fraqueza humana.
Sua vida
demonstra que erudição bíblica e espiritualidade genuína caminham juntas quando
alguém se entrega totalmente ao chamado de Deus.
Ø Só
Deus pode oferecer descanso verdadeiro à alma cansada.
Ø Em
tempos de crise, nossa confiança deve ser exclusiva no Senhor.
2. Versos
3, 4 e 9 – a vaidade dos inimigos e a fragilidade humana
Ø Os
inimigos de Davi são falsos, traiçoeiros.
Ø No
v. 9, Davi mostra que toda humanidade, seja rica ou pobre, é vaidade – sem
valor real comparado com Deus.
Ø Mesmo
quando os homens parecem poderosos, diante de Deus são mais leves que o nada.
Aplicação:
Ø Sendo
assim, não devemos temer o homem, por mais forte ou influente que pareça.
Ø O
valor real não está na posição social, mas na nossa relação com Deus.
Ø Nossa
esperança não pode estar na aprovação humana.
3. Versos
5-8 – espere somente em Deus – Ele é a nossa Rocha.
Ø Davi
repete o que disse no início, mas agora fala consigo mesmo: ele prega
para sua própria alma.
Ø Esperar
em Deus é uma decisão consciente, especialmente em meio à ansiedade.
Ø O v.
8 é um convite ao povo: “Confiai nele, ó povo, em todo o tempo; derramai
perante ele o vosso coração.”
Aplicação:
Ø Devemos
aprender a pregar a verdade à nossa própria alma.
Ø Em
oração, derramar o coração diante de Deus é um ato de fé e rendição.
Ø Em
todo o tempo (bons ou maus), devemos confiar nele.
4. Versos
10-12 – a ilusão das riquezas e o poder de Deus
Ø Riquezas,
poder humano e opressão são tentações – mas Davi alerta: “não confiem nelas”.
Ø O
poder verdadeiro pertence somente a Deus.
Ø No
v. 12, Davi afirma que a misericórdia também pertence a Deus, e que Ele
retribui a cada um conforme suas obras.
Aplicação:
Ø Nossa
segurança financeira ou influência social pode desaparecer rapidamente.
Ø Só
Deus tem poder para sustentar, proteger e julgar com justiça.
Ø Devemos
viver com integridade, sabendo que Deus vê e recompensa.
Concluindo...
Ø O
Salmo 62 nos chama à confiança exclusiva em Deus.
Ø Em
tempos de crise, em meio a traições ou diante das tentações das riquezas, o
salmista Davi nos aponta para o único refúgio verdadeiro: Deus, nossa Rocha,
Salvação e Esperança.
Ø Você
tem descansado somente em Deus?
Ø Onde
está sua segurança hoje?
Ø Derrame
seu coração diante Dele. Ele é digno da sua confiança!
Pr. Walmir Vigo Gonçalves
PIB Muqui – quarta-feira, 22
de outubro de 2025